O corte de árvores na marginal da Avenida Conde de Matarazzo, em Antonina, motivou a atuação de órgãos ambientais após denúncias de moradores. A ação foi realizada pelo empresário Fernando Matarazzo, que afirmou ter como objetivo limpar os trilhos da ferrovia para possibilitar, no futuro, a retomada da operação de trens de passageiros e cargas até a área portuária.
Segundo o secretário de Meio Ambiente do município, Murylo Nemer de Souza, ao chegar até a região que ocorria os cortes, a equipe identificou que havia uma licença em nome do empresário, válida e regular.
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Após fiscalização, licença para corte de árvores foi suspensa. Foto: Diogo Monteiro/ JB Litoral -
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Após fiscalização, licença para corte de árvores foi suspensa. Foto: Diogo Monteiro/ JB Litoral -
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Foto: Diogo Monteiro/JB Litoral
“Chegando ao local, a gente viu que tinha uma licença em nome do empresário Fernando Matarazzo. Estava tudo certo, menos a maneira que ele estava conduzindo esses cortes. Não tinha nenhuma segurança, o que poderia causar perigo para as pessoas que ali transitavam com carros e caminhões. A maneira com que ele executou ocorreu de forma errada. Apesar da licença estar na validade e correta, como ele fez a execução errada, o Instituto Água e Terra fez a suspensão da licença”, detalhou o secretário em entrevista exclusiva ao JB Litoral.
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Vizinhos fizeram a denúncia às autoridades
A ação foi denunciada à Polícia Militar Ambiental por vizinhos. Os agentes se deslocaram até a indústria da família de Matarazzo e apreenderam uma motosserra por falta de Licença para Porte e Uso do Equipamento (LPU).
Em resposta à denúncia e a ação dos policiais, Fernando Matarazzo explicou que levou anos para conseguir a documentação que o autorizasse a cortar as árvores. “Eu tirei o licenciamento ambiental do corte das árvores e supressão de vegetação. Demorou anos para conseguirmos essa autorização. Foi feito um estudo no Instituto Água e Terra e só depois disso foi liberado esses cortes”, diz.
O empresário também reforça que irá fazer uma compensação para cada árvore que foi cortada. “A maioria das árvores são exóticas e nem precisariam de licenciamento. Existem hoje 38 árvores nativas na ferrovia, então, haverá uma compensação ambiental de cada árvore cortada. Nós faremos a doação para a Prefeitura de 380 mudas de árvores para serem plantadas nas praças do município de Antonina”, contou.

Família Matarazzo é histórica em Antonina
O corte de árvores está inserido em um contexto mais amplo de disputas e projetos históricos envolvendo a família Matarazzo. Fernando é descendente de Francesco Antonio Maria Matarazzo, o Conde Matarazzo, que impulsionou o desenvolvimento de Antonina no início do século XX. A família construiu na cidade um complexo industrial que incluía moinhos de trigo, sal e açúcar, ramal ferroviário próprio, porto, escola, habitações e mansão. Esse conjunto foi fundamental para a economia local entre 1910 e 1965 e hoje é tombado pelo IPHAN como patrimônio histórico e cultural.
O Complexo Matarazzo, construído por antepassados de Fernando, foi desativado em 1972. Atualmente, o empresário afirma atuar na região com trabalhos de restauração e adequação da infraestrutura para reabrir a linha férrea em direção ao porto. Ele não detalhou como pretende realizar a reativação da ferrovia e do Complexo Matarazzo.
Prefeitura assumirá cortes de árvores
Como resultado da fiscalização ambiental após as denúncias dos vizinhos e o flagra de irregularidades nos cortes, foi registrado boletim de ocorrência e aplicada multa de mil reais ao empresário. O Instituto Água e Terra (IAT) determinou que a Prefeitura de Antonina seja responsável pela retirada do material cortado, serviço que ainda terá seu valor definido pelo poder executivo municipal.
Procurada, a Prefeitura não respondeu os questionamentos sobre as condições legais e a possibilidade de reativação da linha férrea.